Peça de porcelana moldada e
relevada, branca com apontamento policromos e a ouro. Representa uma dançarina
nua com lenço colorido que cai descobrindo parcialmente as coxas, sentada no
dorso de um urso amestrado. O penteado é elaborado e coberto de adereços. Numa
das mãos segura uma pandeireta. O urso desce de um plinto decorado com
pormenores a ouro. Escultura de teor erótico, onde é evidente a brincadeira
maliciosa da bailarina que, provocante, acaricia a orelha do animal com o dedo
do pé. Na base, carimbo azul com Katzhütte
sobrepujando o símbolo da fábrica e Thuringia, marca utilizada entre 1914 e 1945. Dois traços paralelos (ou 11?),
pintados à mão, a encarnado. Inscrito na pasta 43.
Data: c. 1920Dimensões: alt. c. 23 cm
As temáticas eróticas foram uma constante na arte.
Contudo, será a sensibilidade burguesa do século XIX, um tanto mórbida, que vai
desencadear um novo apetite por este tipo de representação. Longe dos olhares
femininos da família, o bom burguês formava, muitas vezes, as suas colecções
“secretas”, que as esposas e filhas, oficialmente desconheciam. Aliás, a
propósito de coleccionismo, seja ele de que temática for, recebemos um
comentário muito pertinente de uma bloguer nossa seguidora, que referia ser o
coleccionismo mais frequente entre os elementos do sexo masculino e questionava
se não seria um atavismo da nossa ancestralidade de caçadores. Aqui está uma
boa questão para reflectir.
A temática erótica da mulher e
do animal é recorrente nas duas primeiras décadas do século XX, sobretudo, na
Europa Central, prolongando um gosto oitocentista que a sensibilidade alemã faz,
muitas vezes, roçar o brejeiro, se não mesmo o kinky. Estes temas, amplamente coleccionados no Ocidente, chegaram,
obviamente, a Portugal. Foi o caso de uma peça idêntica à que apresentamos, que
em 1931, se não estamos em erro, aparece representada numa composição
fotográfica, levada a concurso nacional, com um panejamento, em fundo, vincadamente art déco. Vimos a peça e a fotografia
respectiva à venda num antiquário da nossa praça há alguns anos.
A Porzellanfabrik Hertwig &
Cº, conhecida popularmente por Katzhütte,
fundada por Christoph Hertwig e Benjamin Beyermann, em 1864, começa a
produzir no ano seguinte. Em 1869, Benjamin Beyermann abandona a sociedade e
Hertwig integra os filhos Karl e Friedrich na gerência. Produz cerâmica
decorativa, sobretudo estatuetas, de faiança e só a partir de 1900 começa a
fabricar figuras de porcelana. Tendo sobrevivido incólume à II Guerra Mundial,
foi nacionalizada em 1958 pelas autoridades da República Democrática Alemã.
Encerrou definitivamente em 1990.
Não resistimos a contar o sucedido com o seu arquivo
histórico. Reencontrado intacto na própria fábrica em 1980, com todos os
modelos produzidos, foi saqueado pelas autoridades para venda no estrangeiro
(Berlim Ocidental e Londres) com o fim de adquirir divisas. Hoje encontra-se
disperso anonimamente por colecções privadas. Não é só por cá que se cometem
atrocidades lesa património.
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