Jarra de
grés moldado, piriforme, de gargalo alto e estreito em cujo topo emergem
tenuemente relevos orgânicos que, acompanhando as escorrências dos próprios
esmaltes, em diferentes tons de terras acastanhados, escorrem ganhando volume,
destacando-se do corpo da peça formando, assim, quatro pequenas asas curvas,
exteriormente angulosas, que no bojo se voltam a dissolver em sugestões curvilíneas
vegetalistas que se entrelaçam, deixando entrever de permeio granulosas
sementes ou frutos. No fundo da base, inscrito na pasta 11. Denbac
Data: c.
1910
Dimensões:
Alt. c. 25, 5 cm
Na organicidade plástica da peça
encontramos eco das criações de Hector Guimard. Uma sugestão de vegetação
devoradora que tudo envolve e asfixia, selvagem e ameaçadora. Daí um dos seus
fascínios. Esta foi a
primeira que comprámos, em 2007, curiosamente na Alemanha. Hoje possuímos um
pequeno núcleo de peças produzidas entre cerca de 1910 e 1935. As datações são
mais ou menos aproximadas. O exemplar que mostramos será dos primeiros se
tivermos em consideração a numeração presente que a identifica.
O
ceramista René Denert (1872-1937) fundou em
Vierzon, um atelier cerâmico, em 1908. No ano seguinte o atelier passou a firma
com o seu nome. Em 1910, René Louis Balichon (1885-1945) torna-se
sócio da empresa onde vai desenvolver a rede comercial, racionalizar a produção
e elaborar catálogos com o inventário sistemático da quase totalidade das
centenas de modelos criados por Denert e seus colaboradores. Estarão
inventariados cerca de 670 dos 750 a 800 modelos produzidos
O
novo nome da sociedade virá a reflectir os apelidos dos fundadores: Den, de Denert, bac, de Balichon.
Enquanto
gestor, Balichon criou não só uma variada rede de lojas de retalho, como também
forneceu os grandes armazéns de Paris, caso das Galerias Lafayette e Printemps,
e exportou para o estrangeiro. Explorou também parcerias com empresas de
perfumes e de bebidas, como a Cointreau ou Marie Brizard, para as quais foram
criados múltiplos recipientes em grés e porcelana.
Reflectindo
a época turbulenta em que laborou, a empresa encerrou por duas vezes durante as
guerras mundiais.
Com
a morte de Denert, em 1937, a companhia começou a conhecer dificuldades,
agravadas com o encerramento devido à guerra. Balichon morreu em 1949, tendo os
seus herdeiros continuado à frente da fábrica até ao fecho definitivo em 1952.
Caracterizadas
sobretudo por um estilo Arte Nova já tardio e muito orgânico, as peças Denbac
são facilmente reconhecíveis pelos seus esmaltes espessos, mates, aveludados,
maioritariamente com subtis gradações de cor e muito agradáveis ao tacto, que
fazem o seu encanto. No entanto, e de acordo com a época, produziu também
interessantes peças Art Deco, de
formas muito geometrizadas, mantendo a qualidade dos esmaltes, agora por vezes
fortemente contrastados.
Durante
anos ignoradas por museus e colecionadores, estas criações começaram a ser, há
já alguns anos, objecto de paixão. Embora a grande maioria continue relativamente
acessível, certos exemplares por vezes atingem preços considerados impensáveis
há bem pouco tempo,
Em
Lisboa não somos os únicos a gostar destes objectos, outros apreciadores
avisados tiveram o péssimo gosto de terem constituído colecções com peças de
fazer inveja a qualquer amante de cerâmica. Achamos tal atitude completamente
execrável. Sobretudo depois de vermos algumas peças que, como é evidente!
detestaríamos possuir…
Para
conhecer a boa e variada produção desta fábrica ver aqui
2 comentários:
Execrável, de facto... : )
Absolutamente... :)
Abraços
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