Quando em 29
de Fevereiro passado apresentámos a jarra-solitário art déco da Vista Alegre que hoje retomamos,
escrevemos que a sua decoração, por afinidade, poderia ser atribuída ao mestre Duarte Magalhães
(1861-1944). Adiantávamos, porém, que, assim sendo, se tratava de uma peça de
nítida influência francesa, de Sèvres ou Limoges. Vem isto a propósito de
termos encontrado a reprodução de um catálogo de Sèvres, que,
apesar de não estar datado, foi editado em 1928 de acordo com a catalogação da
Bibliothéque Nationale de France, cuja folha de rosto aqui reproduzimos,
conjuntamente com a prancha onde aparece o modelo que serviu de base à referida
jarra.
Assim, como aliás já suspeitávamos, não se trata de uma criação
nacional, mas, mais uma vez, reprodução de um modelo importado de França,
apesar de subtis diferenças, em particular no pé. E já agora, quanto à peça em
que nos baseámos, publicada em obras de referência (VISTA ALEGRE: Porcelanas.
Lisboa: Inapa, 1989; FRASCO, Alberto Faria – Mestres pintores da Vista Alegre.
Porto: Figueirinhas, 2005), também nos inclinamos para que seja de autoria
francesa e não de Duarte Magalhães. Aproveitamos para mostrar, a bem do
conhecimento geral, o quão perigoso são para quem as utiliza de uma forma
acrítica. Ilustramos com outros exemplos que aparecem representados no catálogo de
Sèvres. Veja-se as peças atribuídas a Duarte Magalhães e a Ângelo Chuva.
Na
verdade, quando estas obras de referência nacionais confundem os pintores com
os autores das decorações, estão a induzir os leitores em erro, pois aqueles
não passam, muitas vezes, de meros executantes de modelos decorativos, pintados
certamente também sobre formas igualmente importadas. Confunde-se o pintor
enquanto executante, porque, por vezes, assina a peça, com o autor da decoração.
Ou seja, confunde-se o artista criador com o artesão que lhe multiplica o
modelo. Isto para não falarmos da confusão entre Arte Nova e Art Déco devido ao pouco conhecimento de
quem escreve.
Infelizmente
as imagens do catálogo francês não têm grande qualidade, pelo que não pudemos
identificar de forma segura os autores respectivos.
As fotografias
e respectivas legendas reproduzidas são da obra VISTA ALEGRE: Porcelanas, pp. 157
e173.
2 comentários:
Caríssimos:
Dupond et Dupont diriam mesmo mais - a parte inferior do motivo da jarra 3, patente na segunda imagem do catálogo de Sèvres, também foi reproduzida pela VA numa jarra com outro formato.
Provavelmente a totalidade do motivo terá sido também reproduzida pela VA numa outra jarra com formato semelhante ao original de Sèvres.
A este facto não terá sido alheia a direcção artística de Cazaux na VA...
Saudações.
Caro MAFLS,
Diríamos mesmo mais, como Dupond et Dupond, estes foram só alguns exemplos. Outros há que terão a mesma origem, a que a presença de Cazaux não será, de facto, alheia. O importante é esta partilha de informações que nos enriquece a todos e ajuda a ter outra visão sobre uma das vias de entrada da modernidade em Portugal.
Aproveitamos para lhe desejar umas óptimas FESTAS.
Cumprimentos
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