quinta-feira, 12 de abril de 2012

Matisse e a cerâmica dos anos 50 em Portugal

E porque as ideias são como as cerejas, tal como as palavras, as imagens que CMP nos fez recordar, do bailado de c. 1939 Noir et Rouge, com música de Shostakovich coreografado por Leonide Massine e com cenários e figurinos de Henri Matisse, levaram-nos a associar ideias que foram tomando forma.

Ora olhando para os figurinos, e colorindo-os – exercício primeiro mental que logo passámos à prática, dada a cor, infelizmente estar ausente no preto e branco de filme e fotografias de época – lembrou-nos primeiro uma peça e depois uma outra já aqui publicadas e que hoje retomamos.

Se o vermelho simbolizava o materialismo, pois a primeira que de imediato se materializou nas nossas cabeças foi a de Raúl da Bernarda - Alcobaça. Os elementos gráficos dos figurinos, que visualizámos em branco debruados a negro, e o movimento dos seus corpos congelaram numa escultura tridimensional. Se foi essa a ideia de quem concebeu o jarro alcobacense, não o sabemos. Se assim foi, a ideia era boa e conceptualmente atraente, malgrado o resultado final do objecto.


Se o figurino da bailarina Nini Theilade, no pas-de-deux com George Zoritch, na fotografia original de Rouge et Noir, produção do Ballet Russe de Monte Carlo, era o vermelho, isso não chegámos a descobrir. Todavia, a possibilidade era atraente, pelo que colorizámos a mesma. A proximidade entre a decoração do jarro e o grafismo do maillot tornou-se evidente.

São, também de alguma maneira, as folhas recortadas do Matisse dos anos 50 que encontramos noutras peças da mesma fábrica e que tanto CMP como MAFLS já mostraram e que aqui reproduzimos acompanhadas de outras que encontrámos na net à venda numa leiloeira.

Já a peça da Fábrica de Loiça de Sacavém se terá mostrado mais livre na reinterpretação matissiana do grafismo que foi concebido para a sua decoração e que, aquando da sua publicação não referimos.


São, assim, as contaminações que exemplificam uma atitude mental, uma estética, um modo de estar numa dada época. Neste caso, num Portugal reprimido e desfasado no tempo mas onde pelos interstícios irrompiam a rebelião e a vontade de viver comuns ao mundo no Pós-Guerra.

2 comentários:

CMP* disse...

Olá novamente,
confirma-se, de facto tiveram exactamente a mesma ideia que eu ;-)
Era por demais evidente.
Ainda assim acredito que estes motivos decorativos chegaram até cá por via italiana, veremos se esta mediação se confirma...
Ainda bem que foram os perspicazes AM-JMV a enunciar a coisa e não eu.
CMP*

AM-JMV disse...

Olá CMP,
Para nós é muito plausível uma influência italiana. Ao contrário do que habitualmente se diz, que tudo nos chegou por via francesa, é nossa convicção que durante a primeira metade do século XX, continuando uma tradição secular, as influências dominantes nos chegaram directamente da Europa Central e de Itália, como é flagrante na arquitectura, por exemplo.
Cumprimentos