segunda-feira, 9 de abril de 2012

Jarra Art Déco – Tharaud, Limoges



Jarra de porcelana moldada, de forma ovóide e cor base verde céladon, sobre a qual foram aplicados, no terço superior, a partir do gargalo, escorridos de esmaltes azul turquesa e castanhos, em zig-zag regular. Gargalo com esmalte turquesa. Na base, carimbo azul CTharaud e carimbo verde: France-CT-Limoges. Inscrito na pasta M LR que corresponderá às iniciais da decoradora Mercedes Rogé.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 23 cm x diâm. máximo 10,5 cm


Nascido em Limoges, Camille Tharaud (1878-1956) aí abriu uma loja de óptica e fotografia. Mobilizado na I Guerra Mundial, aproveitava as licenças para visitar museus onde descobre, maravilhado, a porcelana chinesa. Depois da desmobilização compra, na sua terra natal, uma fábrica de cerâmica abandonada, que pertenceu a um tal Louis Tharaud, que não era seu familiar ao contrário do que geralmente se afirma.

Contrariamente ao que os concorrentes faziam, não utiliza o carvão para cozer as suas produções cerâmicas, visto que essa matéria altera as cores dos esmaltes dando à porcelana uma tonalidade acinzentada. Assim, prefere utilizar determinados tipos de madeira que respeitam a brancura do material.

Vai utilizar os granitos da região com as suas diferentes composições químicas para esmaltar as peças e, após muitas tentativas, torna-se o melhor esmaltador de todas as fábricas limosinas. Os concorrentes, por inveja, chamavam-lhe o “faquir” porque era um autêntico mágico na sua arte e, simultaneamente um excêntrico na profissão. A sua superioridade consistiu apenas em conseguir fundir os esmaltes ao mesmo tempo que cozia a porcelana, à mais alta temperatura das artes do fogo: 1410º. Assim, os esmaltes coloridos fundiam ao mesmo tempo que o esmalte branco base, o que confere às peças uma única camada de vidrado, onde todas as partículas coloridas são visíveis.

Apesar de totalmente incompreendido pelos seus conterrâneos, vai ter um lugar de destaque no Pavilhão de Limoges na Exposição de 1925 onde obtém um diploma de honra, caso raro numa fábrica que começava. Tudo isto graças a Géo Rouard, director da célebre galeria de objectos de arte com o seu nome, e presidente da secção “Cerâmica” da referida exposição.


Henri Rappin, inspector artístico, e Baudin, chefe de fabrico, ambos da Manufactura Nacional de Sèvres, são seus admiradores pelo que visitam a fábrica para aprenderem as novas técnicas. Marcel Goupy, de quem haveremos de mostrar algumas peças, editadas pela casa Rouard, aceita colaborar com C. Tharaud.

Sucessivamente presente e premiado nos diversos salões e nas exposições parisienses de 1931 e 1937, paradoxalmente continuou a ser mal visto na sua terra natal. Será a sua mulher Berthe quem vai dar viabilidade económica à fábrica ao criar duas linhas de produção. Uma de objectos reservados ao comércio de luxo e outra mais corrente e acessível para os grandes armazéns e exportação, especialmente para os Estados Unidos. Após a sua morte, a fábrica, dirigida pela filha Odette, continua até 1968. Mais tarde, um neto reabre-a e foi uma clássica fábrica de porcelanas, até ao seu encerramento definitivo em 2003.
Só recentemente começou a ser reconhecido como um dos grandes artistas cerâmicos do século XX. Infelizmente, Limoges destruiu quase todas as suas obras públicas, como uma fonte, premiada em 1931, e vários revestimentos cerâmicos em edifícios. Não é só por cá que se cometem atentados ao património por pura mediocridade.

Sem comentários: