Ora olhando para os
figurinos, e colorindo-os – exercício primeiro mental que logo passámos à
prática, dada a cor, infelizmente estar ausente no preto e branco de filme e
fotografias de época – lembrou-nos primeiro uma peça e depois uma outra já aqui
publicadas e que hoje retomamos.
Se o vermelho simbolizava o
materialismo, pois a primeira que de imediato se materializou nas nossas
cabeças foi a de Raúl da Bernarda - Alcobaça. Os elementos gráficos dos
figurinos, que visualizámos em branco debruados a negro, e o movimento dos seus
corpos congelaram numa escultura tridimensional. Se foi essa a ideia de quem
concebeu o jarro alcobacense, não o sabemos. Se assim foi, a ideia era boa e
conceptualmente atraente, malgrado o resultado final do objecto.
Se o figurino da bailarina
Nini Theilade, no pas-de-deux com
George Zoritch, na fotografia original de Rouge et Noir, produção do
Ballet Russe de Monte Carlo, era o vermelho, isso não chegámos a descobrir.
Todavia, a possibilidade era atraente, pelo que colorizámos a mesma. A
proximidade entre a decoração do jarro e o grafismo do maillot tornou-se
evidente.
São, também de alguma
maneira, as folhas recortadas do Matisse dos anos 50 que encontramos noutras
peças da mesma fábrica e que tanto CMP como MAFLS já mostraram e que aqui
reproduzimos acompanhadas de outras que encontrámos na net à venda numa
leiloeira.
Já a peça da Fábrica de Loiça de Sacavém se terá mostrado mais livre na reinterpretação matissiana do grafismo que foi concebido para a sua decoração e que, aquando da sua publicação não referimos.
São, assim, as contaminações que exemplificam uma atitude mental, uma estética, um modo de estar numa dada época. Neste caso, num Portugal reprimido e desfasado no tempo mas onde pelos interstícios irrompiam a rebelião e a vontade de viver comuns ao mundo no Pós-Guerra.
2 comentários:
Olá novamente,
confirma-se, de facto tiveram exactamente a mesma ideia que eu ;-)
Era por demais evidente.
Ainda assim acredito que estes motivos decorativos chegaram até cá por via italiana, veremos se esta mediação se confirma...
Ainda bem que foram os perspicazes AM-JMV a enunciar a coisa e não eu.
CMP*
Olá CMP,
Para nós é muito plausível uma influência italiana. Ao contrário do que habitualmente se diz, que tudo nos chegou por via francesa, é nossa convicção que durante a primeira metade do século XX, continuando uma tradição secular, as influências dominantes nos chegaram directamente da Europa Central e de Itália, como é flagrante na arquitectura, por exemplo.
Cumprimentos
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