Data: c. 1925-30
Dimensões: alt.
31cm x larg. 13cm
Na
teatralidade da representação, do gesto, a figura masculina protege e deseja a
frágil jovem. Terá servido para iluminar qualquer câmara mais íntima, um
quarto, talvez, de um apartamento burguês nos anos 20 ou de inícios de 30, ou
de um lupanar sofisticado. Fantasia, romance, sedução, desejo, num ambiente saturado
de sedas e brocados, perfumes inebriantes… tudo conjugado para uma noite
memorável a dois ou será apenas ilustração de um sonho solitário de celibatário?
Tantas possibilidades…
A
ideia romântica que o Ocidente concebeu das «Mil e uma noites», exacerbada
depois no cinema, com filmes como «The Skeik», deu origem a todo um imaginário
de liberdade e fantasia que pouco estava em consonância com a realidade.
O
Orientalismo foi uma moda dentro da pintura de género que atravessou o século
XIX, reforçada pelas campanhas de Napoleão e que culminou com a descoberta do
túmulo de Tutankamon em 1922. Um fascínio pela civilização desaparecida do
Egipto Antigo misturava-se – ou emparceirava - com o mundo muçulmano. A Sublime
Porta, a mítica Istambul, essa passagem entre dois mundos, horizonte recortado
de cúpulas bizantinas e de émulas otomanas acrescidas de minaretes, era ainda
Europa mas tinha tudo já de outro continente e de outra civilização. O exotismo
de uma Ásia que alastrava pelo Sahara escaldante do Norte de África até
encontrar o Atlântico. O Próximo Oriente circundava a margem sul do
Mediterrâneo e esse fervilhante mundo outro, estendia-se de Marrocos à Pérsia. A expansão do Islão difundiu por
todo esse vasto território certos usos e costumes, maneiras de vestir e arquitecturas.
Por ser demasiado misterioso e ambíguo, terras de desertos sem fim, por
vezes tão sem horizonte como um oceano, o Ocidente olhou para ele como se se tratasse de um todo
uniforme com pequenas variantes.
O fascínio pelos espaços infinitos de
paisagens inóspitas mas hipnóticas, ausentes de verde mas ricas na paleta de
ocres. Ergs e hamadas, com ou sem ouadis,
formam os desertos. Essas paisagens dunares ou pedregosas remetem para mil
aventuras. Aí, encontrar ou não um poço de água ou um oásis verdejante de
tamareiras e sicómoros, pode fazer a diferença entre a vida e a morte, mas na
ficção os heróis sobrevivem sempre e no fim têm a princesa ou o príncipe
encantado dos seus sonhos nos braços. É que Xerazade, Aladino, Ali Babá,
Sinbad, tapetes voadores, edifícios cúbicos, cúpulas
bulbiformes, minaretes, crescentes, portas em ferradura, arcos conopiais, hammams,
odores
a essências preciosas e especiarias, salões ocultos
pejados de ouro, diamantes, rubis, esmeraldas e safiras, e, como parte
da banda sonora, o apelo do muezim,
mito e realidade, tudo se funde na nossa imaginação colectiva
ocidental.
Daí
que sultões, paxás, odaliscas, bailarinas, vizires, encantadores de serpentes,
servos de vários géneros, mercadores e mesmos populares de todo o Próximo e do
Médio Oriente, inundaram um imaginário pleno de luxúria e prazeres carnais. A
ideia de harém suscitava, suscita ainda, os mais loucos desejos e fantasias,
sobretudo por parte da população masculina. A pintura de Ingres serviu para
exaltar toda essa ideia de voluptuosidade, de corpos desnudos e paixões à flor
da pele.
Em grande parte das representações ocidentais, as vestes deste
outro, de uma maneira geral, amplas, tanto podiam dar a descobrir carnações
como tapavam toda e qualquer curvatura de um corpo humano. É isso que podemos
constactar em grande parte das artes decorativas do período Art Déco. Até porque de burca,
niqab, hiyab ou chador a mulher desse Oriente é estranhamente misteriosa. Não permitindo o islamismo que a mulher mostre do corpo mais
que a cara e as mãos, e, em casos mais extremos, nem mesmo isso, no
resguardo de quatro paredes imagina-se que tudo se altere e atinja refinadas
formas de sedução.
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