Jarra de faiança moldada e relevada, piriforme, com
bojo seccionado regularmente por caneluras verticais e três pequenas asas entre
o colo e a parte superior do bojo. Sobre a cor creme de fundo recebeu decoração
estampilhada manualmente a preto e castanho. Entre as caneluras, debruadas por
filete preto, recebeu festões vegetalistas estilizados que pendem de um anel
perolado que cinge a parte inferior do colo sendo a parte superior do mesmo decorado
por duas folhas cruzadas, onde liga a parte superior das asas que são, em ambas
extremidades, pintadas a preto em degradé, simulando o esfumado do aerógrafo. Assenta
sobre pé saliente realçado por filete preto e aguada acastanhada. No fundo da
base, a preto pintado à mão, «Aleluia Aveiro» e, inscrito na pasta, «20»
seguido de «A» igualmente a preto pintado à mão.
Data: c.
1935 - 45
Dimensões: alt. 12,5 cm
Trata-se pois do modelo nº 20, e a primeira
decoração da série, como indica a letra «A». No
Catálogo de loiças decorativas de
inícios da década de 40, aparece representada jarra idêntica, com mesma dimensão
e numeração, mas com o nº 20-B, ou seja, a segunda da série. Haveremos de
postar o modelo nº 21 de maiores dimensões e outras decorações.
Estaremos, uma vez mais, perante um
exemplo de contaminação com a produção da vizinha Fábrica da Vista Alegre. Ao
observarmos a jarra «Ângelo», que ilustramos, não há dúvida de que estamos
perante a mesma forma. A jarra aparece-nos referida na bibliografia existente
como tendo sido criada na Vista Alegre em 1937. Todavia, e mais uma vez a
ironia do desconhecimento sobre a produção nacional, a fábrica alemã de porcelanas
Rosenthal produziu este modelo na mesma década de 30, e não cremos que tenha
sido ela a copiar um modelo português.
Aliás, a Rosenthal parece ter
sido uma razoável fornecedora de modelos para o mercado nacional das fábricas de
cerâmica, caso da Vista Alegre ou Sacavém e, provavelmente por acréscimo, da
Aleluia-Aveiro como será o caso do exemplo de hoje.
A propósito de Sacavém,
aproveitamos para exemplificar um dos casos mais flagrantes de utilização de um
modelo escultórico alemão da Rosenthal e os equívocos que, mais uma vez, o
desconhecimento introduz no discurso nacional vigente sobre o assunto.
Trata-se da escultura de mulher nua
sentada, que na obra «Fábrica de Loiça de Sacavém» de Ana Paula Assunção aparece,
na página 125, erradamente identificada como sendo da autoria de Donald
Gilbert. Como ilustramos, trata-se também de uma peça concebida pela Rosenthal,
criada em 1934 pelo escultor alemão Gustav Adolf Bredow (Krefeld, 1875 - Stuttgart 1953). Basta saber ver a obra de Donald
Gilbert, um artista moderno, para se perceber que tal peça, de estética
profundamente reacionária, já da época hitleriana, não poderia nunca ser
criação sua. Uma obra sem garra.
Como
tivemos oportunidade de desvendar na palestra «À conversa com …», realizada no Museu de Cerâmica de Sacavém, em 24 de
Maio de 2014, intitulada «Modelos e referências estrangeiras na produção da
loiça de Sacavém na 1ª metade do século XX», a influência alemã é bastante
grande em Sacavém.
2 comentários:
Caríssimos:
Apenas duas breves notas.
Uma para corrigir a gralha sobre a designação da fábrica alemã SS. Como sabem, trata-se da Steingutfabrik Störnewitz AG, localizada em Meissen-Störnewitz, e não Sörnewitz como, por lapso, surgiu no corpo do texto e nas etiquetas (http://mfls.blogs.sapo.pt/200616.html).
Outra para acrescentar, como também saberão, que a Aleluia produziu uma jarra de menores dimensões, sob a referência X-273-A, praticamente igual, no formato e na decoração, ao suposto original da Rosenthal que aqui apresentam.
Saudações!
MAFLS
Caro MAFLS,
Em toda a bibliografia consultada SS corresponde a Meissen-Sörnewitz ou Soernewitz.
Quanto à Aleluia-Aveiro viremos a postar um dia destes outra dimensão e outras decorações. O x corresponde a versões decorativas com ouro. Obrigado.
Cumprimentos
Enviar um comentário