Serviço de café de faiança, formado por
cafeteira, leiteira e chávenas com respectivos pires (falta o açucareiro), de
linhas troncocónicas e pés salientes, de cor azul monocromática aplicada a
aerógrafo. As asas são formadas por duas pastilhas circulares justapostas, de
diferentes dimensões, côncavas, e pegas simples de igual configuração. No fundo
da base, carimbos a azul-escuro com as letras HAEL sobrepostas,
e os números 182 e 6.
Data: c. 1925-30
Dimensões: Várias
Uma das criações icónicas do modernismo alemão são estes serviços de linhas cónicas concebidos em versões para chá e café que Margarete Heymann-Loebenstein (mais tarde Heymann-Marks) criou.
Margarete Heymann (1899–1990) nasceu em Colónia no seio de uma família da burguesia judaica. Muito jovem estudou pintura nas Escolas de Arte de Dusseldorf. Após ter estudado cerâmica na Bauhaus nos anos de 1920-21, deixou os estudos e casou-se com Gustav Loebenstein.
Em 1923, perto de Berlim, em Marwitz, fundou
com o marido e o irmão deste, a Haël Werkstätten
für Kunstlerische Keramik (Fábrica Haël para Cerâmica Artística) onde vai aplicar os
conhecimentos adquiridos com Johannes Itten e Paul Klee.
Sob a sua direcção artística (o marido e
cunhado ocupavam-se da gestão), a fábrica vai produzir objectos onde se unem
design moderno, qualidade artesanal e manufactura industrial.
Durante os dez anos de produção (a fábrica
encerrou em 1933) criou uma grande variedade de loiça utilitária e peças com
decoração expressionista a pincel, para consumidores de toda a Europa e Estados
Unidos. A designer em ascensão acreditava na utopia moderna de que uma arte
empenhada poderia melhorar a sociedade.
Em 1928 o marido e o
cunhado morrem num acidente de carro, deixando-a com dois filhos e, em 1933, um
dos filhos com cinco anos morre também noutro acidente.
Com a chegada de Hitler ao poder, em 1933, a cerâmica
de Margarete foi chamada de “degenerada” e colocada numa “câmara de horrores”
ou schreckenskammer.
No novo ambiente político, foi acusada de ser vanguardista no campo artístico, de esquerda no campo político e judia. Em 1934 é forçada a vender a fábrica a um agente nazi por um preço muito abaixo do seu valor real
No novo ambiente político, foi acusada de ser vanguardista no campo artístico, de esquerda no campo político e judia. Em 1934 é forçada a vender a fábrica a um agente nazi por um preço muito abaixo do seu valor real
A 20 de Maio do ano
seguinte o pasquim de propaganda do regime “Der Angriff,” dirigido por Joseph Goebbels, lançou uma série de calúnias contra a
ceramista classificando o seu design como “produto de um funcionalismo
degenerado e mal compreendido” e publicou fotografia comparando a cerâmica
de Grete com as produções da fábrica sob a nova administração ariana, com a legenda: «Duas raças têm diferentes formas para o mesmo objectivo.
Qual a mais bela?»
A artista
todavia não teve o mesmo destino que a sua fábrica às mãos dos nazis. Tendo embora
perdido familiares e amigos – a mãe foi morta no campo de concentração nazi de
Sobibor na Polónia ocupada – valendo-se da rede de contactos que tinha no
estrangeiro, conseguiu fugir para Inglaterra com o filho e começou a trabalhar
nas olarias de Stoke-on-Trent em 1937.
Nessas manufacturas
tradicionais, criou diversos objectos de design, incluindo a sua própria linha
para a Minton & Co, mas nunca mais alcançou a excelência das suas criações
alemãs.
Voltou a casar-se em 1938
com Harold
Marks e, em 1945, passou a residir em Londres onde se dedica sobretudo à
pintura.
O legado de Grete Marks é o
de uma designer consumada que dedicou a sua vida à criação de objectos
utilitários visualmente poderosos e artísticos. O seu talento notável
revelou-se plenamente nos objectos produzidos no Atelier Artístico de Haël onde
concretizou a visão utópica da Bauhaus fundindo o design moderno com o
artesanato de qualidade numa produção em grande escala. Hoje classificamos a
cerâmica produzida por aquela fábrica como moderna, aerodinâmica, actual,
enfim, cool.
Na verdade Margarete Heymann-Marks, apesar de todas as vicissitudes da sua vida, que daria um filme
extraordinário, com as suas criações cerâmicas foi dos principais protagonistas
do sucesso internacional da Bauhaus.
Durante longo tempo quase
esquecido tem vindo a ser revalorizado cada vez mais o trabalho criativo desta
designer, e redescobrem-se com encanto e admiração as suas peças, sobretudo do
período alemão. São disputadas por particulares e museus, e as exposições
sucedem-se. Veja-se a recente exposição no Milwaukee Art Museum, de cujo blogue retirámos parte
da informação que vos apresentamos, aqui e aqui, e a exposição «Avantgarde für
den Alltag: Jüdische Keramikerinnen in Deutschland 1919-1933» que agora decorre
no museu Bröhan em Berlim cuja capa do catálogo também aqui mostramos. Para mais informação, ver ainda o site da
Bauhaus.
2 comentários:
Caros AM-JMV,
obrigada por mais este artigo cheio de interessantes referências.
Muito haveria para dizer sobre uma série de designers mulheres que atravessaram as privações da Guerra e da condição feminina, impostas pelo tempo, e ainda assim produziram um corpo de trabalho fabuloso, nesta área de trabalho.
Saudações,
CMP*
Cara CMP,
Temos andado todos muito calados. :)
Confessamos o nosso fascínio pelo trabalho e pela vida de Margarete Heymann-Marks e, já agora, por Eva Zeisel. Na verdade a importância das mulheres na Bauhaus (apesar do machismo de muitos dos seus elementos masculinos) e no design alemão na República de Weimar foi assombrosa. Foi uma pequena homenagem a um dos nossos designers de eleição. E como já escrevemos, nunca é demais recordar o passado,sobretudo nos tempos que vão correndo...
Cumprimentos
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