Não
coleccionamos objectos de cerâmica só porque sim. Coleccionamos para melhor
conhecer e perceber as dinâmicas industriais e produtivas, as modas, os gostos de
toda uma época. Na verdade, o seu contexto social, económico, político, mental
e artístico.
É
evidente que não negamos haver também toda a vertente estética associada ao
objecto, ao prazer de o possuir e, de alguma maneira, como já por aqui
escrevemos, de contribuir para a sua preservação.
Pensamos
que, ao longo dos breves meses de existência do blogue, já demos uma ideia,
ainda que sumária, das nossas preferências e preocupações. Procuramos seguir os
caminhos da modernidade dentro da vasta produção industrial do período que nos
assiste, isto é, daquilo que está em consonância com o seu tempo próprio. Não
nos interessam os neos enquanto pastiche, mas enquanto procura reinterpretativa
que dará origem a algo novo.
Como
trabalhamos, esta procura nem sempre segue o rumo que gostaríamos que seguisse.
Trata-se apenas de um passatempo com que nos entretemos e descansamos o cérebro
dos males deste país e do mundo, dado por vezes fazer falta uma pausa. Foi este
o caminho que encontrámos para tê-la.
Em primeiro lugar tentamos ler o objecto em si mesmo, como fonte documental primeira. Depois, segue-se a pesquisa bibliográfica e daí andarmos atentos ao que foi e vai sendo editado em matéria de publicações monográficas, revistas e catálogos de exposições que interessem ao nosso propósito. Dadas as limitações de tempo, tentamos sempre adquiri-los, pelo que a nossa biblioteca acabou por ganhar contornos de núcleo especializado. Claro que a net veio facilitar, e muito, a busca. O que tem ficado sempre secundarizado é a pesquisa nos fundos documentais existentes.
Vem
tudo isto a propósito de, finalmente, termos conseguido fazer um pouco de
pesquisa, ainda que sumária, num desses acervos.
Trata-se
do Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso, parte integrante do Museu de
Cerâmica de Sacavém (CDMJA-MCS).
Não
foi propriamente um primeiro contacto. O MCS faz parte, desde que inaugurou, do
nosso circuito dos museus a visitar, enquanto amadores (no verdadeiro sentido)
das artes da cerâmica, com a regularidade possível e de acordo com o seu
calendário expositivo. Aos fins-de-semana evidentemente.
Com
o aparecimento do blogue - e o mundo virtual tem, de facto, muitas vantagens -
logo se estabeleceram trocas de contactos que se revelaram muito proveitosos.
Finalmente, consultámos o centro de documentação e confirmou-se o que suspeitávamos: um espólio rico e variado. Acrescente-se o termos encontrado uma equipa atenta, interessada, competente e simpática, que nos sugeriu pistas e nos guiou para além do que seria expectável. Acresce que grande parte da documentação se encontra digitalizada e por isso mesmo facilmente disponível, com a vantagem de preservar os originais existentes. Que esperam escolas, investigadores, colecionadores, e público em geral? O espólio está à espera de ser descoberto.
Podemos
estar a ser injustos, mas pena é que a Academia continue com o preconceito de
que a produção cerâmica se trata de uma arte menor e, por isso, menos digna.
Mas, já agora, o CDMJA-MCS preserva arquivos de outras fábricas de Loures que
esperam apenas que alguém as dê a conhecer. Provavelmente teriam surpresas
agradáveis. Quando existem serviços e conteúdos, para além do equipamento
propriamente dito, com esta qualidade, é incompreensível que estejam
subaproveitados.
As
imagens que hoje apresentamos, de peças art
déco da Fábrica de Loiça de Sacavém, aqui anteriormente publicadas, muito
teriam enriquecido os posts de então
se tivéssemos feito a pesquisa em devido tempo. O nosso agradecimento ao CDMJA-MCS
que tão generosamente nos permitiu utilizá-las. Reiteramos também os nossos agradecimentos a MAFLS que, de há muito, vem fazendo divulgação deste espólio e de quem tantas vezes "abusamos" ao utilizar as que publica.
Também
nos parece que qualquer coisa mudou no museu. A exposição anterior e a que
actualmente decorre, para a qual chamámos a atenção à data da sua inauguração,
mostraram bem, pela positiva, essa mudança de rumo. Ganharam coerência temática
e expositiva, criaram conhecimento, e, muito importante, são bonitas de ver.
Um
senão: lamentamos a ausência de catálogos. Não havendo verba para um convencional
em papel, porque não uma edição em CD, extremamente económica e hoje tão difundida
internacionalmente?
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