Cinzeiro de faiança moldada e relevada em forma de
hipopótamo estilizado, de corpo
arredondado, quase esférico, assente sobre quatro patas simétricas, e boca
aberta, de cor creme subtilmente craquelé.
O maxilar inferior, curvo, serve para apoiar o cigarro. No fundo da base carimbo
azul «Gilman & Cta, Sacavém» sobrepujando «Made in Portugal».
Data: c.
1930-40
Dimensões: Alt. 6,5 cm x comp. 7,5 cm x larg. 5 cm
(aproximadamente)
Trata-se de mais um objecto fantasista e divertido
com que os criadores de cerâmica, e não só, amenizaram o quotidiano do período
entre as duas Grandes Guerras. As suas obras ajudavam a esquecer
o passado recente que profundas marcas havia deixado em todos assim como a
Depressão que, iniciada em 1929, fazia surgir o especto de nova hecatombe,
corporizada na subida ao poder de Hitler, em 1933. A potência alemã que havia
causado a tragédia de 1914-18 voltava a mostrar as fauces.
Mas, por enquanto, a Europa fingia viver no melhor
dos mundos possíveis. Brincar ajudava e os objectos funcionavam como escapismo
na esquizofrenia ascendente. Não é à toa que este «Yawning Hippo Ashtray», reproduzido pela fábrica de loiça de
Sacavém, seja uma concepção inglesa da Wilkinson Ltd, por volta de 1930. Arthur
J Wilkinson (Ltd) operava na Royal Staffordshire Pottery, em Burslem,
Stoke-on-Trent. O Reino Unido fazia parte do grupo dos
vencedores mas as cicatrizes demoravam a fechar.
Encontrámos uma referência online
como tendo sido este cinzeiro criado por Clarice Cliff, que nessa firma trabalhou, mas não o
conseguimos apurar.
Como
sabem, gostamos de imaginar possíveis cenários onde os objectos pudessem ter
figurado no passado. Tratando-se de um cinzeiro individual, logo pouco propício
à partilha (a não ser que houvesse vários exemplares estrategicamente
espalhados pelo espaço colectivo de recepção de um qualquer interior
doméstico), imaginamo-lo numa mesinha de apoio, junto a uma poltrona pronto a
ser manuseado. Na pacata realidade portuguesa era mais uma blague num mundo ainda
rural isolado sobre si próprio.
Esta forma simplificada e divertida de um cinzeiro
em forma de hipopótamo, mais uma vez um brinquedo para o universo dos adultos, remete-nos
ainda para a sexy bailarina
hipopótamo que nos deliciou, e delicia ainda, na «Dança das Horas», de Ponchielli, no filme de Walt Disney,
Fantasia (1940). Deixa-nos bem-dispostos e faz-nos sorrir.
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