Apesar da pouca
assiduidade que tivemos neste último ano no que diz respeito ao Moderna Uma
Outra Nem Tanto, não queríamos finalizar 2016 sem trazer novidades e desejar os
tradicionais votos de Bom Ano.
Jarra art
déco de faiança moldada, oitavada e craquelé
com os ângulos sublinhados a ouro, tal como o anel saliente do bocal. Sobre
o fundo beige dos 2/3 superiores da
peça destacam-se, também a ouro, volutas formadas pelo desabrochar de folhas de
feto. O terço inferior preenchido por campo de flores, a amarelo e laranja, e
folhas estilizadas em tons de encarnado. Os esmaltes coloridos são aplicados
segundo a técnica da corda seca ou “relevo contornado”. No fundo da base,
carimbo a preto esverdeado com o brasão dos Houart, «Longwy – France». Pintado à mão, a preto, «242» e «D.5060».
Inscrito na pasta 3070.
Data: c. 1925-30
Dimensões: alt. 38 cm
Já aqui apresentámos esta mesma forma com
outros tamanhos. Esta é maior de todas. A decoração é de Raymond Chevallier, de
quem já falámos.
Escolhemos habitualmente um peça Longwy
esmaltada para finalizar o ano, dado o seu optimismo mundano se enquadrar numa
quadra festiva como esta, em que se renovam votos de saúde, amor, paz e
prosperidade.
E para simbolizar tudo
isso que melhor pode haver que a representação da pujança e força orgânicas das plantas,
tão bem expressas no desenrolar de uma folha de feto? Um renascer e um renovar de
vida constantes.
Foram características recorrentes na Arte
Nova e uma das suas principais especificidades, todavia, o Art Déco vai buscar também
o elemento vegetal mas a linguagem com que o vai vestir é radicalmente
diferente desse outro estilo mais sinuoso, feminino e que privilegiava a
assimetria. A organicidade aqui ganha contornos de mecanização, com plantas estilizadas,
geometrizadas e de cores planas, sem cambiantes, aplicadas de forma repetitiva.
Estes fetos,
que se desenrolam num espiralado esquinado, tal como a própria forma da jarra, não
germinam de uma manta morta vegetal, natural, antes crescem sobre uma
superfície atapetada de estranhas flores, talvez rosas, que abrem entre
folhagem. Tudo num registo de artificialidade assumida.
Uma
criação visual optimista, que aceita a mecanização da própria natureza como atributo
do progresso civilizacional em marcha, e símbolo de modernidade, pois no futuro
a máquina substituirá a força braçal da humanidade permitindo, finalmente, o
direito ao bem-estar e ao lazer. Um futuro sem guerras, pois a última tinha
sido um pesadelo que a condição humana não poderia aceitar nunca mais.
Paradoxalmente,
ao olhar contemporâneo poderá ter uma outra leitura. Talvez porque estamos hoje
mais conscientes de que o avanço civilizacional não é linear nem forçosamente
progressista.
Assim, toda
esta vegetação poderá ser interpretada como ameaçadora, carnívora. Sobre a
ilusão floral erguem-se tentáculos sinistros. Previa-se, então, o futuro
próximo e a guerra mundial seguinte? Ou será a nossa mente que, perante a
repetição da loucura da guerra mundial em curso, o terrorismo, os
fundamentalismos, a eleição de Trump, o degelo e a consequente subida das
águas, a intolerância fascista do politicamente correcto e de todas as outras, imagina
coisas?
Bom, a
intenção era encerrar o ano com uma visão de futuro optimista e a bonita jarra isso
prometia. Mas, mais uma vez o balanço anual fez-nos cair na tentação contrária.
Porém, como ainda acreditamos no Homem e a Esperança é a última a morrer,
renovamos os votos de
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