Depois de mais um longo interregno, voltamos ao
activo com uma peça divertida.
Data: c.
1955
Dimensões: comp. 13 cm x larg. c. 12 cm x alt. 3 cm
Trata-se do modelo 762 e, mais uma vez, estamos
perante a primeira decoração, a «A», de uma série.
Este tipo de peça zoomórfica é, em nossa opinião, um
contrassenso. Por um lado a sua função destina-se claramente a um público
adulto, por outro, a figura, neste contexto, anacrónica de um pato de banda
desenhada infantil mostra-nos um brinquedo.
Brinquemos, pois, com a ideia, certamente a
preferida dos adeptos das teorias de conspirações ocultas de multinacionais sedentas
de lucro, neste caso as tabaqueiras, de que a forma tinha como missão apelar ao
consumo de cigarros por parte dos mais jovens – incentivando-os ao acto ilícito
de fumar, fomentando o vício.
Porém, parece-nos um tanto ou quanto excessiva tanta
maldade premeditada. E daí…
O lúdico também tem um papel importante na vida dos
adultos, torna-a mais relaxada e menos sufocante. E as peças da Aleluia-Aveiro
entre 1955-65, mesmo as mais eruditas, trazem subjacente essa ideia.
Imaginemos exemplos de cenários possíveis onde a
presença de um simples cinzeiro divertido poderia marcar a diferença no mundo
supostamente responsável dos adultos.
Um exemplo seria o simples acto de chegar a casa
depois de um dia cansativo de trabalho e sentar-se a fumar um cigarro, eventualmente
a ler o jornal (nos anos 50 ou inícios da década seguinte, no Portugal de então,
estaríamos a falar do homem da casa, claro), parece-nos credível que o simples olhar
para o objecto onde pousava o cigarro, pela forma e pela radiância e alegria das
cores, despertasse, no mínimo, um sorriso. Voltava-se à infância num acto de
adulto.
Outro exemplo, em dias de convivialidade com amigos
que se convidavam para uma festa lá em casa, no meio de um espaço
sobrecarregado de fumo e vapores etílicos, o mesmo cinzeiro poderia
proporcionar alguns momentos divertidos, dando azo a comentários mais ou menos brincalhões,
despertando a criança que há dentro de todos.
Um objecto de pessoa crescida bem-disposta, e porque
não?
2 comentários:
Interessantíssima postagem!
Análise sociológica impecável, em função da época!
Parabéns!
Continuem.
Caro Jorge Amaral,
Muito obrigado por nos seguir e pelo amável comentário. Esperamos puder voltar a ser mais assíduos e que continue a seguir-nos e a comentar.
Cumprimentos
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