Taça de grés com decoração art déco relevada vegetalista de esmaltes policromos e realces a ouro, tanto externa como interiormente, de bojo nervurado com caneluras céladon cintado superiormente por grinalda de folhagem estilizada verde e bagas a azul-real, ambas contornadas a ouro, que, em três partes geometrizadas pendem sobre as caneluras. Bordo a ouro “à accidents”. A taça assenta sobre pé em anel a verde e ouro. No côvo, envoltas por círculo verde, bagas a azul-real caídas sobre ouro. No fundo da base, pintada à mão, a preto, OC inseridos num H (iniciais dos autores).
Data: c.1925
Dimensões: Alt. 6,4 cm x Ø13
cm
A taça é bem um exemplo do
trabalho conjunto da dupla de artistas que constituiu o casal Chatrousse e Heiligenstein.
Auguste Heiligenstein
(1891-1976) começou como aprendiz de decorador na Fábrica de Vidro Legras &
Cª entre 1904 a 1906. Contratado pela Cristalaria de Baccarat, aí permanece
entre 1907 e 1912 enquanto frequenta o ensino nocturno da Escola de Artes
Decorativas.
Após a Grande Guerra, entra
para a Maison Geo Rouard onde executa
decorações em esmalte sobre vidro da autoria de Marcel Goupy. Em 1923, após
deixar Rouard, casa com a ceramista Odette Chatrousse (1896-1989). A par do
trabalho sobre vidro vai começar uma parceria com a sua mulher no campo do
esmalte sobre cerâmica. Tendo participado em inúmeras exposições, recebe uma
medalha de ouro na Exposição das Artes Industriais e Modernas de 1937.
É sobretudo o período entre
guerras, principalmente após o casamento, que vai marcar o apogeu dos dois
artistas e torná-los incontornáveis na história das artes decorativas da
primeira metade do séc. XX no Ocidente.
No atelier parisiense que
Odette herda do seu pai, o escultor Emile Chatrousse, trabalham ambos a cerâmica
e o vidro. Por vezes outros artistas como Mayodon aparecem para trabalhar e
cozer as suas criações. Odette decora peças que manda executar a oleiros a
partir de desenhos seus. Antes do casamento havia trabalhado principalmente
para as Galerias Lafayette que abriram o seu atelier de decoração moderna,
dirigido por Maurice Dufrenne, em 1921.
Os pratos, taças, jarras,
muito decorativos num estilo floral e geométrico já em moda e que triunfará na
exposição de 1925, são ornamentados em esmaltes ricamente coloridos.
Rapidamente as cores restringem-se e harmonizam-se numa gama de azuis, do
turquesa ao azul real que contrastam com o dourado. Esta gama de cores irá ser,
também, a imagem de marca do atelier de vidro esmaltado de Heiligenstein. Este,
de 1923 a 1935, vai assim trabalhar paralelamente o vidro e, com a ajuda da
mulher, a decoração sobre cerâmica. Essencialmente a sua participação técnica
nas peças de Odette restringe-se à aplicação de realces a ouro, em segunda
cozedura, nos contornos dos motivos feitos a esmalte.
A aplicação a ouro utilizada
durante este período remete para Mayodon, sobretudo para a sua técnica do ouro
“à accidents” com o qual decorava o fundo das suas criações, como é bem
evidente na taça que mostramos. Trata-se de um ouro velho, cheio de
imperfeições.
Sem comentários:
Enviar um comentário