Parte de serviço de chá art déco, de faiança moldada, composto por bule, açucareiro, leiteira e manteigueira, de cor branca com decoração geométrica, de rectângulos e triângulos, estampilhados e aerografados a azul e cor-de-vinho, em esfumado, com apontamentos à mão, a castanho, nas asas, pegas e bicos. No fundo da base, carimbo preto (marca utilizada entre, pelo menos 1936-50) composto por dois círculos concêntricos sobrepujado por coroa e lateralmente envolvido por coroa de louros. No círculo interior uma Cruz de Cristo enquadrada pelas iniciais C F C L [Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia], envolvido no círculo exterior por «Massarellos – Roriz – Porto». Por baixo de todo o conjunto «Portugal». Leiteira e açucareiro apresentam ainda, inscrito na pasta, «R». O bule não tem qualquer marca para além das da trempe presentes em todas as peças
Data: c.
1936-40
Dimensões: Várias
Segundo
José Queirós (Cerâmica portuguesa e outros estudos, da Editorial Presença,
Lisboa, 2002, p.380) a fábrica foi fundada em 1738 por Manuel Duarte Silva, no
lugar de Massarelos, na Rua da Restauração, perto do Cais das Pedras. Será a
mais antiga fábrica de faianças do Norte de Portugal. Arrendada entre 1819 e
1845 a Rocha Soares, familiar do fundador, produziu louça utilitária, peças
artísticas e azulejos lisos e relevados – que se tornaram uma das marcas
identitárias da fisionomia urbana do Porto, e que são raros em Lisboa onde
aparecem num edifício unifamiliar da Rua do Quelhas.
De uma
gestão familiar até ao início do século XX, a fábrica foi comprada a 2 de Maio
de 1904 por uma sociedade, a Empresa Cerâmica Portuense, Lda, administrada por
Archibald James Wall, que havia adquirido sede e novas instalações fabris na Quinta
do Roriz, em Quebrantões do Norte, na freguesia do Bonfim, junto ao rio Douro, tendo
como propósito a produção de tubos de grés e louça sanitária. O seu
funcionamento só ficaria regularizado em 1906 com a atribuição da respectiva
licença que permitia estabelecer no local uma
fábrica de cerâmica, tendo a partir daí laborado em simultâneo com a filial da fábrica
de louça em Massarelos.
Em 1912 C.
J. Chambers, que havia entrado dois anos antes para a Empresa Cerâmica
Portuense como empregado, adquiriu uma cota, ficando a firma a denominar-se
Chambers & Wall.
Consumida
por um incêndio na madrugada de 11 de Março de 1920, a unidade original de
Massarelos passa para a Quinta do Roriz onde a firma Chambers & Wall
assegurou a produção da louça da marca “Massarelos-Porto”. A louça da marca
“Massarelos” continuou a ser produzida na unidade industrial de Quebrantões do
Norte até 1980. Depois do encerramento da fábrica foram demolidos, para que se
pudesse construir a ponte de São João, os edifícios de que restam apenas dois
fornos “garrafa” e uma chaminé.
A sociedade
Chambers & Wall, por escritura lavrada no dia 3 de Junho de 1933, passou a
designar-se Chambers & Wall, Lda., sociedade por quotas constituída pelos
sócios Charles Archibald Wall, Richard Allan Wall e Leslie Dow Smart. Em 29 de
Fevereiro de 1936 a fábrica de Roriz foi vendida à Companhia das Fábricas
Lusitânia, SARL, com sede em Lisboa, constituída por escritura de 3 de Setembro
de 1929, que por mais alguns anos daria continuidade à marca Massarelos.
Entretanto a unidade industrial da Quinta de Roriz muda novamente de mãos pelo
que de 1 de Julho de 1944 a 1952 se encontra arrendada à Companhia das Fábricas
de Cerâmica Lusitânia (CFCL) e por escritura de 25 de Julho de 1944 passou a
denominar-se Fábrica de Loiças «Massarelos», Lda.
A fábrica é
vendida, em 29 de Dezembro de 1952, à firma Fábricas «Lufapo» de Faianças e
Porcelanas, (S.A.R.L.) embora a laboração da Fábrica de Louças «Massarelos»,
Lda., continuasse a ser anunciada ao ano seguinte. Embora a «Massarelos»
revelasse uma situação económica difícil a partir de meados da década de 50,
realizaram-se avultados investimentos nos anos 70, e a «Lufapo» manteve esta
sua filial no Porto até 16 de Abril de 1980, ano em que encerraria
definitivamente por declarado estado de falência.
A marcação
das peças com o carimbo “MASSARELLOS / RORIZ – PORTO / CFCL / PORTUGAL”
corresponde, sem sombra de dúvida, ao fabrico posterior a 1936 em que a fábrica
apresenta cariz mais industrializado.
Na posse da CFCL a fábrica produzia para o mercado interno e para o estrangeiro, neste caso
sobretudo os produtos em pasta de faiança, apresentando uma produção bastante variada
onde, para além da louça de uso doméstico e decorativo, fabricava uma vasta
gama de louça sanitária, pias para água benta, tinteiros para carteira, etc.,
com três séries (A, B e C) de qualidade de decoração e de preço, bem como com
várias cores e dimensões, conforme as tabelas de preços para os anos de 1940 e
1943, editadas pela CFCL, referentes à produção da Fábrica “Massarelos”.
A decoração
deste serviço de chá insere-se na Série B, «constituídas por desenhos cheios ou
pulverizados, a mais de uma cor, por crómos pequenos e médios, e por bandas
simples», conforme explica a tabela de preços de 1943. Trata-se de uma decoração
geométrica, aplicada a estampilha e aerógrafo, perfeitamente germânica, dentro
de espírito da República de Weimar, e na Alemanha, à data em que por cá foi
feita, abolida como "arte degenerada". Também ao nível das formas poderemos
encontrar a mesma filiação. Ambas muito próximas, aliás, do que se produzia em Sacavém. Embora a qualidade plástica seja muito apelativa, o
mesmo não se poderá dizer da qualidade técnica que deixa muito a desejar.
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