Três jarros de porcelana moldada e
relevada, de base branca com decoração geométrica estampilhada e aerografada com
esfumados. No fundo da base dos jarros a encarnado e preto e a azul e verde, carimbo
verde com castelo - Leuchtenburg Miranda [ref. Marca 44] e inscrito
na pasta 538 [nº forma] ges. gesch.. Quanto à versão
laranja e preto, sem carimbo, tem escrito à mão,
a preto, 538./7605./2. e inscrito na pasta 538 ges.
gesch.. A azul e verde ainda tem a tampa de metal cromado, enquanto a a
encarnado e preto mantém o selo de origem «Miranda Echt Porzellan» colado no
gargalo.
Data:
1929
Dimensões: Alt. c. 18,5 cm (c/ tampa c. 21,5 cm)
Objectos utilitários como estes jarros para chocolate (kakaokanne - traduzido por chocolateira) foram produzidos por variadíssimas empresas que conceberam uma enorme variedade de formas e decorações aerografadas quer de faiança quer de porcelana.
A pequena mas altamente qualificada fábrica de porcelana Lehmann & Sohn, de Kahla, na Turíngia, teve como génese um atelier de decoração de porcelana, fundado em 1885, por Carl August Lehmann e Paul Zierold. Após10 anos de sucesso a firma expandiu-se começando a produzir, em 1895, porcelana fina, sobretudo para exportação, com o nome de C.A. Lemann & Sohn. Em 1935 funde-se com a Manufactura de Porcelana Franz Bauer (1927-1935) e passa a denominar-se Bauer & Lehmann. Esta associação durou até 1965 quando se junta à Manufactura August Frank (fundada em 1894) com o nome de Manufactura de Porcelana de Kahla. Parcialmente nacionalizada em 1972 acaba por encerrar em 1990.
A marca de 1905 a 1935 apresenta como símbolo o castelo de Leuchtenburg, vizinho à cidade de Kahla. Daí que comummente se chame Leuchtenburg às produções da Lehmann & Sohn, cuja época áurea se regista na última década deste período, sobretudo a partir de 1929.
A pintura a aerógrafo na decoração cerâmica não era novidade. A porcelana dinamarquesa da Royal Copenhagen e outras utilizavam esta técnica para os fundos esfumados de muitos dos seus objectos decorativos, que ressaltavam pela qualidade nos finais do século XIX (já apresentámos peças desta proveniência com tais fundos). Todavia, não teve consequências imediatas de maior fôlego. Teríamos de esperar pelos Anos 20 para que na produção industrial tal técnica fosse utilizada massivamente na criação de objectos modernos para uma sociedade sedenta de novidade, e acessíveis ao grande público. Esta produção vai funcionar como contraponto aos objectos de luxo e exclusivos que caracterizavam o Art Déco, popularizando a linguagem decorativa do estilo que até então era destinado à nova elite do pós-guerra. A utilização das decorações a aerógrafo sob o vidrado abriu inúmeras possibilidades artísticas a esta técnica que a Alemanha da República de Weimar vai explorar até ao limite do experimentalismo.
A mecanização das técnicas artesanais e as suas
novas possibilidades formais, sobretudo com a utilização de padrões
decorativos aerografados, foram
exploradas por diversos artistas plásticos, como referimos em posts anteriores. Os efeitos de
transparência e de espaço obtidos, com os deslocamentos dos padrões definidos
pelas estampilhas e as gradações tonais obtidas, os contornos marcados a ângulo
recto como negativo, os halos dos círculos e segmentos, as estruturas
reticuladas e os zig-zags das suas pinturas reflectiam-se na decoração
aerografada do jarro proletário, dos pratos do povo, e no estilo universal e
internacional da decoração de padronagem art
déco. O aerógrafo torna-se um substituto do pincel, permitindo a equivalência
industrial na decoração às novas correntes artísticas de
vanguarda de uma forma mais eficaz, porque mais rápida e económica.
Se é primeiro na faiança que as novas técnicas e
propostas artísticas serão um sucesso fulminante de massas, rapidamente as
fábricas de porcelana, em dificuldades perante o fenómeno, responderão com uma
criatividade idêntica de que as peças que hoje apresentamos são exemplo.
A
partir de finais da década de 20, era apenas do ponto de vista económico que se
distinguia um objecto de porcelana de um outro de faiança. O primeiro seria
mais “fino”, o segundo mais “pobre”. Do ponto de vista estético e artístico
tinham igual dignidade.
Alguns dos dados aqui expressos foram retirados entre outros, do catálogo da exposição realizada no Padiglione d'Arte Contemporanea de Milão (1984-1985) cuja capa se reproduz.
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