Escultura animalista, de faiança moldada e relevada, policroma, pintada a aerógrafo com apontamentos manuais, representando um peru, de cor azul forte com cabeça e carúncula a encarnado, assente sobre um soco castanho. Na base, carimbo estampado, verde, da unidade de Lisboa: escudo coroado Lusitânia, com Cruz de Cristo enquadrada pelas iniciais C F C L [Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia] sobrepujando Portugal.
Data: c. 1930-40
Dimensões: alt. 11,5 cm (soco: 7,5 cm x 6 cm)
Mais uma vez, e à semelhança do pelicano da Lusitânia – Coimbra, anteriormente divulgado, estamos em crer que a escultura “peru” também será importada. Esta peça é curiosa a vários níveis, por um lado partes dela são quase naturalistas, por outro lado regista-se uma estilização geometrizada da cauda aberta que remete para uma gramática art déco. Tal como acontecia com o pelicano, a pintura revela a mesma liberdade quase expressionista, com cores fortes e contrastantes.
As origens da Fábrica de Cerâmica Lusitânia remontam a 1890 quando o francês Sylvan Bessière a fundou para produção de tijolos, telha marselha, manilhas e loiça utilitária (talhas para água e vasos). Inicialmente instalada perto do matadouro junto à Estrada das Picoas, na zona do actual Saldanha Residence e do edifício sede da Portugal Telecom/Fórum Picoas, por volta de 1900 haveria de ser transferida para junto do Palácio Galveias, ao Campo Pequeno, uma zona rica em barro.
Com a morte do fundador, em 1919, a fábrica perde o carácter familiar e é comprada pelo Banco Industrial Português que a transforma na Companhia da Fábrica de Cerâmica Lusitânia (C.F.C.L.), que, a partir de 1929, haveria de comprar fábricas falidas um pouco por todo o país, com destaque para a Fábrica da Estação Velha, em Coimbra, e, já em 1936, a Fábrica de Cerâmica de Massarelos, em Quebrantões - Vila Nova de Gaia. A designação passava, entretanto, a Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia. São as unidades fabris de Lisboa e Coimbra as que mais nos interessam enquanto coleccionadores.
Depois de 1945, a empresa veio a substituir a marca CFCL pela marca LUFAPO.
A fábrica de Lisboa, que terá funcionado até finais dos anos 50 do século XX haveria de encerrar portas definitivamente cerca de 20 anos mais tarde, sendo o edifício demolido para dar lugar à sede da Caixa Geral de Depósitos. Como memória desta importante unidade fabril restou uma chaminé inserida no jardim que rodeia a faraónica construção da autoria do arquitecto Arsénio Cordeiro.