Peça de porcelana moldada e relevada, de cor branca,
com apontamentos a amarelo, laranja, ouro, preto e verde, figurando uma jovem
mulher, de pé e em pose, envergando traje de cabaré: calções curtos a amarelo,
casaco e chapéu alto. Cabelo à la
garçonne. Assenta sobre pé circular escalonado debruado a ouro. No fundo da
base, carimbo verde «Rosenthal»«B-Bavaria». Inscrito na pasta «11». A dourado
uma assinatura ilegível, talvez do pintor.
Data: 1923
Dimensões: Alt. 23 cm
Cabaré e Alemanha de entre guerras parecem ser
indissociáveis, ideia que a literatura, o teatro e o cinema ajudaram a cimentar.
Mais
que a divine decadence da
personagem Sally Bowles, do filme Cabaret
(1972), baseado na obra homónima de Cristopher
Isherwood, que a brilhante Liza
Minelli interpreta no filme de Bob Fosse,
ao vermos esta delicada figurinha de porcelana, e embora não estejamos perante a
atracção fatal da Lola Lola que actua no decadente cabaré Anjo Azul (Der blaue Engel), interpretado pela não
menos brilhante Marlene Dietrich, do filme de Josef von Sternberg, estreado em
1930, é dela que nos lembramos.
Embora mais liberta, reivindicando para si atributos
de moda, de pose e de comportamentos até então masculinos, a mulher é
ainda uma ameaça. Continua durante este período a encarnar o Mal. A atracção demoníaca exercida por
actrizes e coristas, no palco e no ecrã (embora neste se reduzisse, para a
grande maioria dos espectadores, a amor platónico e a devaneios oníricos)
continua tão presente como durante a Belle
Époque.
A Alemanha sente o tratado de paz de 1919 como uma
injustiça. Apesar dos sacrifícios e da pesada perda de vidas, quer militares,
quer civis, o país não tinha conhecido o horror das batalhas e da destruição
dentro do seu território, e a população mantinha-se profundamente ligada à
monarquia e sentia como estranha a nova república imposta.
Arruinada economicamente pelo conflito e pelas
pesadíssimas indemnizações que era obrigada a pagar às potências vencedoras,
mergulha na miséria. Paralelamente, franjas de ricos, novos-ricos e arrivistas
consomem freneticamente as coisas boas que o dinheiro pode proporcionar. A
festa, o desvario, vão constituir a fuga a uma realidade da qual não se
vislumbrava saída.
Quando
a escultura intitulada «Charme» foi criada, por Gustav Oppel, para a fábrica
alemã Rosenthal, nos inícios da década de 1920, era este o cenário. A situação arrastou-se até 1925, quando se dá
o empréstimo americano, ano em que se inicia a acção do Anjo Azul, e a
situação económica alemã melhora nos curtos anos que antecedem o crash da bolsa
de Nova Iorque.
A escultura mostra uma elegante e charmosa criatura de um
qualquer espectáculo musical de luxo, até porque se destinava a ser adquirida
por uma clientela sofisticada e de posses.
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