sábado, 19 de abril de 2014

Base para bolos art déco Max Roesler - Alemanha


Placa circular de faiança moldada (base para bolos), de bordo ligeiramente sobrelevado, com decoração geométrica estampilhada e aerografada. Bordo aerografado a azul em esfumado. No fundo da base, carimbo verde «brasão com rosa», da manufactura Max Roesler, sobrepujando «25» (carimbo usado de 1933 a 1941). Inscrito na pasta, no rebordo lateral, 6525/31.
Data: 1935-37
Dimensões: Ø c. 32,5 cm

Forma nº 6525, cuja composição dentro do abstracionismo geométrico, remete para as influências de Kandinsky e do Suprematismo russo, com o desenho estampilhado a aerógrafo ora bem delimitado pelo recorte da estampilha, nas formas circulares e nos três segmentos de recta amarelos, ora esfumando-se num dos lados nos demais elementos, caso do segmento de recta azul que a secciona a eixo e da forma em S contraponto dos semicírculos apostos.

A marca que ostenta, o "brasão com rosa" sobrepujado por número, sob vidrado em verde-azeitona, é utilizada de 1933 a 1941. A numeração que acompanha este carimbo começa com 11, e atinge, em 1935, o número 20. Em 1937 chega ao 33, sendo o número mais alto registrado o 48. Esta numeração permite, assim, a classificação temporal das peças, e daí a datarmos entre 1935-37. 


Ora esta decoração abstracta levanta-nos algumas questões devido à sua datação tardia, visto ser demasiado vanguardista para o novo gosto oficial dominante, que a partir de 1933 vai reprimir a estética que caracterizou a República de Weimar, e daí, por antítese, ser a nossa escolha para iniciar a amostragem de outras criações que possuímos da empresa. É que se deve a Wolfgang Kreidl (Dresden, 1906 - Wilhelmsburg 1972) a introdução da decoração a aerógrafo na unidade fabril da Max Roesler em Rodach. A decoração aerografada, então em moda em muitas fábricas de cerâmica alemãs, especialmente Waechtersbach, Grünstadt e as fábricas do Grupo Carsten, levou Kreidl a ajustar-se às novas tendências.
Embora a decoração da peça de hoje não seja, em princípio, da sua autoria - outras suas hão-de ser aqui postadas – é herdeira do seu magistério.

Tendo assumido em 1929 a gestão técnica do departamento de Darmstadt (que tinha um caráter mais experimental), após o encerramento deste, passa, em 1931, ao departamento de modelagem da unidade de Rodach, sendo também da sua responsabilidade a elaboração das decorações estampilhadas. Em 1933, casa com Hilde Stade, que viria a morrer no campo de concentração de Theresienstadt. Em Abril de 1934, abandona Rodach e foge para Viena. Em 1938 retorna à Alemanha com documentos falsos e assume a gestão técnica da fábrica de cerâmica "Bergschmied" em Bad Schmiedeberg. Sobreviveu ao regime nazi e retorna em 1947 à Áustria aí morrendo em 1972.

Quanto à fábrica propriamente dita, a sua designação provém de Max Roesler (ou Rösler) (1840-1922), fundador da Porzellan und Feinsteingutfabrik Max Roesler A.G., filho dos actores Otto e Tina Roesler. A fábrica localizava-se em Rodach, na região de Coburgo que hoje está integrada na Baviera.

O registo comercial da companhia data oficialmente de 1894 tendo como objectivo o fabrico, decoração e venda de porcelana e faiança fina. O símbolo escolhido para a marca foi a rosa, remetendo para o nome da família. No ano de 1900 a firma já produzia cerca de 1000 criações próprias que tinha registado.

Após as mortes inesperadas dos seus dois filhos – Max, em 1897, e Heinz, em 1909, – e não tendo sucessores, Roesler decidiu, em 1910, criar uma corporação em que apenas os seus amigos pessoais e os funcionários se pudessem tornar accionistas. Cada acção tinha um valor nominal de 1000 marcos e, no caso dos trabalhadores que não tivessem dinheiro suficiente, podiam associar-se dois a dois para comprar uma acção em conjunto. Estatutariamente 25% dos lucros líquidos seriam divididos pelos funcionários.

Com o eclodir da Grande Guerra, em 1914, a produção foi interrompida, voltando, no entanto, a recomeçar parcialmente no ano seguinte. Metade dos trabalhadores tinham sido chamados ao serviço militar. As dificuldades subsequentes ao fim do conflito levaram Max Roesler em 1919 a vender as suas acções a uma entidade bancária e a retirar-se. No ano seguinte Roesler recebeu um doutoramento honoris causa em Munique, vindo a morrer em 1922.

Pouco tempo depois já a fábrica tinha voltado à sua capacidade máxima de produção. Em 1923 os novos proprietários compraram outra fábrica de cerâmica em Darmstadt e, após uma profunda reconversão reabriram a empresa com a designação de Porzellan und Feinsteingutfabrik Max Roesler AG, Werk Darmstadt. Em 1931, como consequência do colapso do mercado em 1929, a unidade de Darmstadt foi encerrada.

Nunca tendo recuperado totalmente, a fábrica de Rodach, foi colocada à venda em 1938 e, após um pesado projecto de “arianização”, foi adquirida pela Siemens que a vai utilizar como subsidiária na produção de isoladores. Em 1943 fundiu-se com a Siemens.

No pós Segunda Guerra Mundial, a Max Roesler ainda produziu faiança para satisfazer as necessidades locais, tendo parado definitivamente em 1956. No ano seguinte foi comprada por uma empresa francesa, passando a produzir sistemas de ar condicionado para automóveis.

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