Caixa de forma antropomórfica representando um jovem “mouro”
que, fazendo uma genuflexão, apresenta uma bandeja com oferta. Trata-se de uma
peça composta por dois materiais distintos, com a parte inferior de porcelana
moldada e policromada, e a tampa de metal (bronze?) parcialmente lacada.
A figura, ao gosto art déco de inspiração neo-rococó, apresenta em porcelana as calças
largas cor de tijolo carregado, cobertas por “camisa” comprida branca,
rodada, com decoração geométrica a verde, e sapato a ouro. Este vestuário cerâmico
é complementado pela parte metálica, constituída pelo tronco da personagem,
vestida com gibão apertado por faixa na cintura e a cabeça, cuja cara é lacada à
cor do chocolate, porta turbante. (Agradecemos que nos esclareçam se não
utilizámos terminologia adequada). Na base, apresenta a marca da fábrica Ernst Bohne Söhne, em Rudolstadt, de carimbo a azul com um N
coroado (utilizado até 1921), e outro circular com Made in Germany. Inscrito na
pasta, Germany DRGM [Deutsches Reich
Gebrauchsmuster], que
significa modelo registado do império alemão. Data: c. 1918-21
Dimensões: alt. c. 15,5 cm
DRGM é um registo de modelo mais rápido e barato que
um registo de patente. Estamos em crer que terá o
mesmo significado do modèle déposé francês
já referido a propósito das peças de Sandoz.
A
Ernst Bohne Söhne foi fundada em
Rudolstadt, na Turíngia, em 1848 pelo pintor de porcelana Ernst Bohne. Após a
sua morte, em 1856, seus filhos, Gustavo, Karl e David, ficaram com a gerência
da fábrica agora conhecida como Ernst Bohne Söhne (filhos). Algum tempo depois,
os filhos de David, Bernhard e Marta, assumiram o controlo. Em 1919, a fábrica
foi vendida aos Irmãos Heubach de Lichte. De 1919 até 1930, a empresa funcionou
como um ramo da Heubach Co. A partir desta data a fábrica de Rudolstad entrou
em crise e fechou. Em 1937, Albert Stahl, e outros reabriram a fábrica sob o
nome de Albert Stahl & Co. Vormals
[antiga] Ernst Bohne Söhne.
A marca de coroa e N usada por Capo
di Monte, em
Nápoles, desde cedo foi amplamente copiada por muitas fábricas, por ser um
símbolo de prestígio, pelo que passou a ser utilizada como marca da própria Ernst Bohne Söhne. A partir de 1891 as
peças para exportação receberam carimbo circular “Made in Germany”.
No antiquário em Viena, onde o comprámos, em
1994, informaram-nos que se tratava de um objecto raro, muito coleccionável. Então
nem pensávamos propriamente em colecções, mas agradou-nos a forma, o requinte
e, sobretudo, a mistura de materiais pouco habitual para o gosto português.
Só
recentemente compreendemos a razão de ser do comentário e a maior curiosidade da
peça. Para nós tratava-se apenas de um objecto de luxo e não víamos, por
desconhecimento, mais que um bonito modelo em figura do mouro, recorrente nos exotismos
europeus desde o século XVIII, e que tomámos por guarda-jóias. O divertido é a publicidade implícita que a personagem comporta, natural para o comprador germânico coetâneo, que não desconhecia a existência do Mouro Sarotti. Quer pela figura, quer pelas cores, a caixa remete indirectamente para um símbolo publicitário desvendando, assim, a sua função de bomboneira.
Isto porque em 1868 Hugo Hoffmann abriu uma confeitaria na Mohrenstraße 10 (Rua dos Mouros, 10), em Berlim, para cujo cinquentenário, em 1918, um publicista criou a figura do negro «Sarotti-Mohr» (Mouro Sarotti) – um pouco como o lisboeta «Preto da Casa Africana» - ainda hoje extremamente popular nas embalagens de chocolates da firma, mesmo depois de se ter transformado num mágico branco a partir de 2004 …
The name of the city is not RudolFstadt but Rudolstadt.
ResponderEliminarHello Lavaguy,
ResponderEliminarWelcome to our blog.
Thank you so much for your information. We've already rectified Rudolstadt name.
Best regards